Trilogia
Joyce
Por
que Joyce?
Montar uma trilogia tendo como suporte
o escritor James Joyce
significa antes de tudo referenciar um autor, que, por seu repertório
inesgotável de invenções constituiu o símbolo
do nutrimento a todo e qualquer impulso criador. Sob este aspecto, a trilogia
se apóia muito mais na fidelidade ao espírito fundamentalmente
criativo de Joyce do que no compromisso de reproduzir temas e personagens
que povoam sua obra. Recriar Joyce seria para nós principalmente
fortalecer as afinidades com a própria concepção
literária do escritor, sobretudo no que diz respeito ao aspecto
estrutural de sua obra.
O romance/prosa de Joyce, entendido como
prática de métodos intersensoriais resultou num sistema
de dualismo, paradoxos e temas que podem ser compreendidos muito além
da literatura. Se a ampla exposição de vocábulos
justapostos, superpostos e deformados compõem musicalmente uma
rede renhida de efeitos sonoros, cenicamente, personagens e eventos da
mais remota antiguidade coexistem com acontecimento e personagens e eventos
da mais remota antiguidade coexistem com acontecimentos e personagens
contemporâneos.
Dentro desta visão de ruptura de
tempo e espaço alia-se à prosa de Joyce tanto o poema quanto
a ópera, o sermão, a farsa, a prosa clássica e a
gíria mais grosseira.
Ao complexo cênico/sonoro que nos
propõem Joyce, acresce-se a própria tessitura do romance,
onde, a noção de desenvolvimento linear da narrativa deixa
de ter validade. Emergindo da multiplicidade de informações
multifacetadas surge o verdadeiro personagem da obra de Joyce: a linguagem
ela própria, enquanto passível de reestruturação
para a transmissão de uma idéia.
Ao revolucionar a prosa literária
do séc.XX James Joyce criou também um novo leitor: aquele
que, sem outra opção, torna-se obrigatoriamente ativo, constante
e persistente na leitura de uma obra que se está fazendo sempre
e que está sempre por fazer.
A trilogia Joyce do Grupo Oficcina Multimédia,
iniciada em 1989 com “Navio-noiva e Gaivotas” e seguida de
“Epifanias” (1990)- tem paralelamente como suporte uma base
triangular onde homem/mulher/criança sucessivamente aparecem como
tônica dramática dos diferentes espetáculos.
Em “Alcinações”
– ultima fase da trilogia, a criança é a referencia
simbólica, reforçando o espaço do lúdico e
do imaginário na concepção cênica/sonora do
espetáculo.
Ampliando as referências literárias
incorporamos na proposta o autor Lewis Carroll, que, antecipando Joyce
foi um precursor da palavra/montagem na criação literária.
Com “Alice nos país das maravilhas” e “Através
do espelho e o que Alice encontrou lá” – Lewis Carrol
também se utiliza do universo infantil como pano de fundo para
sua proposta e, através dos inúmeros paradoxos semânticos
nos coloca a frente com o nonsense e a armadilha dos raciocínios
lógicos.
PRIMEIRO ESPETÁCULO
DA TRILOGIA:
NAVIO-NOIVA GAIVOTAS (1989)
Release
Navio – noivas e Gaivotas traz no
próprio título a proposta de um jogo de repetição
de vogais onde fim e começo, o que se repete na estrutura do espetáculo:
AIO-OIA-AIO A ...
Os personagens, que atuam sob constante
tensão de antagonismo mutuamente suplementares, também seguem
as regras de um jogo pré-determinado, e se expressam através
do material cênicos/ sonoro/ visual que compõe a linguagem
multimeios:macho e fêmea, velho e novo , ódio e amor, cômico
e sério, morte e vida.
Este trabalho vai dar continuidade a proposta
do Grupo Oficcina Multimédia de integrar as diversa formas da expressão
artística, com uma nova visão dentro das artes cênicas.
Partindo de uma estrutura basicamente musical, nosso objetivo é
extrapolar a linguagem especificamente sonora, explorando os gestos, o
deslocamento, a ação, em uma concepção musical
mais abrangente. Som/forma/movimento/material cênico se justapõem,
se alternam, se inter-relacionam, num contínuo contraponto do material
expressivo.
O material sonoro é tratado de forma
fragmentada através de sucessões, encadeamentos e superposições
de timbres e sonoridades acentuadamente contrastantes. Formalmente, a
musica interage com a cena de diversas maneiras e se manifesta ao vivo
e em fita magnética.
FICHA TÉNICA
Direção e
roteiro
Ione Tibúrcio de Medeiros
Trabalho coreográfico
Ana Lana Gastelois
Mônica Ribeiro
Paulo Jamarino
Trabalho fotográfico
Márcia Charnizon
Elenco
Ana Lana Gastelois
Conceição Nicolau
Danilo Curtis Alvarenga
Mônica Ribeiro
Paulo Jamarino
Iluminação
Manuela Rebouças
Produção
Carlos Eduardo Rezende
Música
Grupo de Música de câmera da FEA:
Adma Aparecida da Silva (clarinete)
Cíntia Gomes Zanco (violino)
Conceição Nicolau (voz)
Fernando Gloor (oboé)
José Julião júnior (violoncelo)
Rogério Vasconcelos Barbosa (violão)
Guilherme Paioliello (violão)
Composição
Rogério Vasconcelos Barbosa
José Julião Júnior
Guilherme Paioliello
Crítica
Navio-Noivas e Gaivotas:
“A pesquisa do Grupo Oficcina Multimédia incide sobre
os obscuros meandros da consciência humana, hora empregando sinestesias
hora recusando a palavra como instrumento principal da comunicação
e utilizando fragmentos de sons e cores na tentativa de introduzir o espectador
num universo onírico, ou seja o do domínio do subconsciente,
sobre a racionalidade. (...) A adaptação teatral de “FINNEGANS
WAKE” resulta numa peça que, por gravitar na esfera sensorial
e por um estimulo à percepção estritamente auditiva
e visual, deve ser sentida e não apenas filtrada pela Razão.”
Oreste Spadoni (escreve para o Correio Brasiliense)
SEGUNDO ESPETÁCULO
DA TRILOGIA
EPIFANIAS (1990)
Release
Epifanias corresponde à 2 parte
da trilogia Joyce iniciada em 1989 com “Navio-Noivas e gaivotas”.
A tônica do espetáculo é
o próprio comportamento da mente feminina, uma torrente jorrando
continuamente e revelando um fluxo misto de materialidade e transcendência.
Neste universo de ambivalências fundem-se Eva/virgem Maria, extrapolações
de Molly Bloom (ULISSES) e Ana Lívia Plurabelle (Finnegans Wake)
e também símbolo da vida e da morte, pecado e redenção
da humanidade. O aspecto lúdico do espetáculo é o
prenuncio da 3ª fase da trilogia onde a criança vem a ser
a representação de um ideal de liberdade e plenitude e plenitude
na criação artística . “Epifanias”, cujo
sentido religioso significa aparição divina, é tomado
aqui sob um prisma profano. O que está em questão é
a revelação em contínuas metamorfoses, subordinando
às próprias alternâncias entre ascensão e queda.
FICHA TECNICA
Roteiro e Direção
Ione de Medeiros
Direção de
texto
Carlos Rocha
Composição Musical (realizada no Centro
de Pesquisa em Música Contemporânea da Escola de Música
da UFMG)
Sérgio Freire
Composição
coreográfica
Eugênio Paccelli
Mônica Medeiros Ribeiro
Composição
Fotográfica
Márcia Charnizon
Iluminação
Manuela Rebolças
Figurino
Elza Costa
Marilda Rolim (confecção)
Marcelo King (bordado)
Elenco
Eugênio Paccelli
Eugenio Tadeu Pereira
Mônica Medeiros Ribeiro
Cíntia Gomes Zanco (violino)
Felipe Amorim (flauta)
João Candido (violoncelo)
Tarcício Ramos Homem
TERCEIRO ESPETÁCULO
DA TRILOGIA
ALICINAÇÕES (1991)
Release
“Alicinações”
se resume numa grande maratona onde o tema central é o jogo em
suas múltiplas facetas. À maneira de “Através
do espelho e o que Alice encontrou lá”, toda a ação
dramática se desenrola num imaginário tabuleiro de xadrez
composto de casas móveis que vão sendo montadas e desmontadas
pelos atores/bailarinos segundo os diferentes lances do jogo.
Neste complexo de regras estabelecida disputa-se
o poder, e o vale tudo incorpora também as quebras de regras ou
alucinações. São estas fantasias que , interferindo
no fluxo das maratonas , vão recriar continuamente às fronteiras
do tempo e espaço.
“Alicinações”
compõe com sons/ imagens/ movimento, universo que busca o onírico,
o simbólico e o imaginário da criação artística.
Texto e Música formam no espetáculo,
um complexo de citações que vão de James Joyce a
trechos de ópera, além das diversas fontes sonoras trabalhadas
por procedimentos elétro-acústico.
FICHA TÉCNICA
Direção e Roteiro
Ione de Medeiros
Diretor Administrativo
Eugênio Tadeu Pereira
Assistente de Direção
Mônica Ribeiro
Composição
Musical
Antônio Celso Ribeiro
Composição
Coreográfica
Mônica Ribeiro
Tarcísio Ramos
Elenco
Mônica Ribeiro
Raquel Nunnes
Tarcísio Ramos
Técnica Vocal
Conceição Nicolau
Figurino
Daniela Garcia
Iluminação
Ivanir Marcos Avelar
Documentação
em Vídeo
Bruno Viana
Fotografia
Márcia Charnizon
Produção
Grupo Oficcina Multimédia
F.E.A.
Crítica
Alicinações:
“Otra de esas compañías que válidas de los
menores recursos técnicos y escenográficos mostró
una buena puesta en escena fue “Oficcina Multimédia”,
agrupación venida desde Belo Horizonte, Brasil a este XXVII Festival
de Teatro de Oriente.
“Alicinaces” es el nombre de
esta pieza dirigida por Ione de Medeiros y en la cual este grupo de teatro
danza logra trasponer la barrera del lenguaje de la mano de una técnica
depurada en sus movimientos y de una fina y simple propuesta estética
que sirven de marco al relato de su historia.”
Carlos Mollejas D. (EL DIARIO DE CARACAS)
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